Solo Fraturado
Casa de Cultura do Parque
Curadoria Claudio Cretti
Visitação
28 de outubro de 2023
a 03 de março de 2024
quarta a domingo
das 11h às 18h
Av. Professor Fonseca Rodrigues, 1300.
FRACTURED SOIL is a series that casts a critical look at the environmental crisis on our planet. Creating a dense and at the same time poetic tessitura, the set of photographs and videos builds a large installative wall, presenting powerful dialogues about one of the fundamental urgencies of our time: water.
The hidden face of the Jaguari Reservoir, of the “Sistema Cantareira” (Cantareira Water Supply System), is revealed almost dry. What was hidden beneath the waters for decades is exposed, showing fragments of the past. Oxides from the soil emerge spreading across the ground in reddish tones, creating a soil poetics that bleeds and pulses underground.
Soil cracks show streams of water pointing to small spring veins, dam remaining in the middle of eroded soil. this can be seen as actual dialogues loaded with metaphors, the water veins forming a duality with the fissures, proposing a reflection between the fertile and the arid, the fluid and the rigid; forms that resist in a single scene.
Rupturing, breaking and leaving. In FRACTURED SOIL, fracture appears as a violent act. Just like a bone, which breaks when it cannot withstand the impact, the ecosystem fragments due to social neglect in its preservation. Where there was previously fluidity, discontinuity is assumed, formed by cracks that fragment the exhausted soil. The records seen in this exhibition highlight memories of a calamity act that warn us about the future.
In the footage, tractors are recorded pulling out trees stumps and roots that inhabited the area before the dam existence, showing a great game of forces between nature and machinery. The diesel engine accelerating noise, the steel cables tension and the breaking wood cracks expose the harsh reality, also proposing a reflection on human violence and nature's resistance conflict.
SOLO FRATURADO é uma mostra que lança um olhar crítico sobre a crise ambiental de nosso planeta. Criando uma densa tessitura e ao mesmo tempo poética, o conjunto de trabalhos em fotografias e vídeos constroem uma grande parede instalativa, apresentando diálogos potentes sobre uma das urgências fundamentais de nosso tempo: a água.
A face ocultada da Represa Jaguari, do Sistema Cantareira, é revelada quase seca. O que estava escondido sob as águas por décadas é exposto, mostrando fragmentos do passado. Óxidos da terra afloram, se espalhando pelo chão em tons avermelhados, criam uma poética da terra que sangra e pulsa no subsolo.
As rachaduras no solo mostram fios de água apontando para pequenos veios de nascentes, remanescentes da represa no meio deste solo erodido. Podendo ser vistos como diálogos reais carregados de metáforas, os veios de água formam uma dualidade com as fissuras, propondo uma reflexão entre o fértil e o árido, o fluido e o rígido; formas que resistem em uma única cena.
Romper, quebrar e partir. Em SOLO FRATURADO a fratura surge como um ato violento. Assim como o osso, que se parte quando não suporta o impacto, o ecossistema se fragmenta perante ao descaso social em sua preservação. Onde antes havia fluidez, assume-se a descontinuidade, formada por rachaduras que fragmentam o solo exaurido. Os registros vistos nesta exposição, evidenciam memórias de um ato de calamidade que alertam para o futuro.
Nas filmagens, são registrados tratores arrancando tocos e raízes das árvores que habitavam a área antes da represa existir, mostram um grande jogo de forças entre a natureza e a máquina. O barulho do motor a diesel acelerando, a tensão dos cabos de aço e os estalos da madeira rompendo, expõem a crua realidade, mas também propõem uma reflexão sobre o conflito entre a violência do homem e a resistência da natureza.
The tree stumps found at the bottom of the dam show its history. After being cut, burned, mutilated and submerged for 40 years, they still resist while being removed. Some roots slowly emerging from the dry earth sprout like a surviving image in the continuous struggle to regain its space.
The records made by Sonia Guggisberg during the 2014 water crisis, when the dam reached 7% of its reserve, appear as a warning of an unsolved crisis.
Just as eroded soil can be soaked again by water, social amnesia is also stimulated to silence, remaining inert in its actions. The memory fleetingness added to the natural disasters accumulation that we experience daily leads to the banalization of catastrophes. Seen as something trivial owned to an extractive economic system rule, it creates the false hope that such impasses are resolved.
Carlos Gonçalves
Guggisberg's research is a perception exercise showing that desertification, this ecological regression process that acts on the environment also spreads into social life. Their interventions and video installations are micropolitical actions seeking to reactivate values such as affection, belonging, bonds, memory. However, documents gain autonomy and their own forms, different from their matrices.
The route here becomes even more provocative and interactive, taking us back to the cycle of soil permeability and social relations. By working on the environmental crisis as an expanded concept, Sonia Guggisberg develops a transversal thinking that relates environment, art and life. Perfectly readable, within the three ecologies Félix Guattari's concept - environmental ecology, social ecology and mental ecology -, his micropolitical actions shed light on the ways of living on the planet: not only in the socio-environmental changes context but also in ways of life enrichment and subjectivity.
Paula Alzugaray
Sonia Guggisberg's works are not places to stay, but doors to be crossed or perspectives for new paths. Her artworks are metaphors that create and build relationships, they are like a “modeling imagination”: it is capable of breaking everyday thinking beliefs, where phenomena are treated as objects, not as relationships. Thus, metaphors are directed to a totality, transforming two heterogeneous and separate fields into a single one, creating something new, total and intentional.
This is exactly what is essential: materializing ways of seeing the world. The greatness and sovereignty of artwork rest on the materialized representation and its forms of representation system. Precisely here, art is a mirror, not because it reflects what is external to it, but because we live a way of seeing experience, something we make our own experience, something that, without this mirror, we would ignore. The sovereignty of art consists, therefore, in its ability to represent and materialize ways of seeing reality.
Bernd Fichtner
Full Professor and Scientific Director of the International Education and Psychology Doctorate (INEDD) at the University of Siegen, Germany.
Os tocos de árvores encontrados no fundo da represa mostram sua história. Após serem cortados, queimados, mutilados e submergidos por 40 anos, ainda resistem quando são retirados. Algumas raízes surgindo lentamente da terra seca, brotam como uma imagem sobrevivente na luta contínua de retomar seu espaço.
Os registros realizados por Sonia Guggisberg durante a crise hídrica de 2014, quando a represa chegou a ter 7% de sua reserva, surgem como um alerta de uma crise não resolvida.
Assim como o solo erodido pode ser encharcado novamente pela água, a amnésia social também é estimulada ao silêncio seguindo inerte em suas ações. A fugacidade da memória, somada ao acúmulo de desastres naturais que vivenciamos diariamente, induz a banalização das catástrofes. Visto como algo trivial, pertencente às regras de um sistema econômico extrativista, cria-se a falsa esperança de que tais impasses sejam resolvidos.
Carlos Gonçalves
A pesquisa de Guggisberg é um exercício de percepção mostrando que a desertificação, esse processo de regressão ecológica que atua sobre o meio ambiente, se alastra também na vida social. Suas intervenções e videoinstalações são ações micropolíticas que buscam a reativação de valores como afeto, pertencimento, vínculo, memória. Porém, documentos ganham autonomia e formas próprias, diferenciadas de suas matrizes. O percurso, aqui, torna-se ainda mais provocativo e interativo, levando-nos de volta ao ciclo de permeabilidade do solo e das relações sociais. Ao trabalhar a crise ambiental como um conceito ampliado, Sonia Guggisberg desenvolve um pensamento transversal que relaciona meio ambiente, arte e vida. Perfeitamente legíveis, dentro do conceito das três ecologias de Félix Guattari – a ecologia ambiental, a ecologia social e a ecologia mental -, suas ações micropolíticas lançam focos de luz sobre as maneiras de viver no planeta: tanto no contexto das mudanças socioambientais como no enriquecimento dos modos de vida e da subjetividade.
Paula Alzugaray
As obras de Sonia Guggisberg não são lugares onde ficar, mas portas para serem atravessadas ou perspectivas para novos caminhos. As obras são metáforas que criam e constroem relações, são como uma “imaginação modelante”: é capaz de romper crenças do pensamento quotidiano, onde os fenômenos são tratados como objetos e não como relações. Desta forma, as metáforas são dirigidas a uma totalidade, transformando dois campos, heterogêneos e separados, num único, criando algo novo, total e intencional.
Exatamente isso é o essencial: materializar modos de ver o mundo. A grandeza e soberania da obra de arte repousam na representação materializada e no sistema de suas formas de representação. Precisamente aqui a arte é um espelho, não por refletir o que lhe é externo, mas por vivermos uma experiência de um modo de ver, que tornamos experiência nossa, algo que, sem este espelho, ignoraríamos. A soberania da arte consiste, portanto, na sua capacidade de representar e materializar modos de ver a realidade.
Bernd Fichtner
Professor Titular e Diretor científico do “doutorado internacional em educação” (INEDD) na Universidade de Siegen, Alemanha.
FRACTURED SOIL is a series that casts a critical look at the environmental crisis on our planet. Creating a dense and at the same time poetic tessitura, the set of photographs and videos builds a large installative wall, presenting powerful dialogues about one of the fundamental urgencies of our time: water.
The hidden face of the Jaguari Reservoir, of the “Sistema Cantareira” (Cantareira Water Supply System), is revealed almost dry. What was hidden beneath the waters for decades is exposed, showing fragments of the past. Oxides from the soil emerge spreading across the ground in reddish tones, creating a soil poetics that bleeds and pulses underground.
Soil cracks show streams of water pointing to small spring veins, dam remaining in the middle of eroded soil. this can be seen as actual dialogues loaded with metaphors, the water veins forming a duality with the fissures, proposing a reflection between the fertile and the arid, the fluid and the rigid; forms that resist in a single scene.
Rupturing, breaking and leaving. In FRACTURED SOIL, fracture appears as a violent act. Just like a bone, which breaks when it cannot withstand the impact, the ecosystem fragments due to social neglect in its preservation. Where there was previously fluidity, discontinuity is assumed, formed by cracks that fragment the exhausted soil. The records seen in this exhibition highlight memories of a calamity act that warn us about the future.
In the footage, tractors are recorded pulling out trees stumps and roots that inhabited the area before the dam existence, showing a great game of forces between nature and machinery. The diesel engine accelerating noise, the steel cables tension and the breaking wood cracks expose the harsh reality, also proposing a reflection on human violence and nature's resistance conflict.
The tree stumps found at the bottom of the dam show its history. After being cut, burned, mutilated and submerged for 40 years, they still resist while being removed. Some roots slowly emerging from the dry earth sprout like a surviving image in the continuous struggle to regain its space.
The records made by Sonia Guggisberg during the 2014 water crisis, when the dam reached 7% of its reserve, appear as a warning of an unsolved crisis.
Just as eroded soil can be soaked again by water, social amnesia is also stimulated to silence, remaining inert in its actions. The memory fleetingness added to the natural disasters accumulation that we experience daily leads to the banalization of catastrophes. Seen as something trivial owned to an extractive economic system rule, it creates the false hope that such impasses are resolved.
Carlos Gonçalves
Guggisberg's research is a perception exercise showing that desertification, this ecological regression process that acts on the environment also spreads into social life. Their interventions and video installations are micropolitical actions seeking to reactivate values such as affection, belonging, bonds, memory. However, documents gain autonomy and their own forms, different from their matrices.
The route here becomes even more provocative and interactive, taking us back to the cycle of soil permeability and social relations. By working on the environmental crisis as an expanded concept, Sonia Guggisberg develops a transversal thinking that relates environment, art and life. Perfectly readable, within the three ecologies Félix Guattari's concept - environmental ecology, social ecology and mental ecology -, his micropolitical actions shed light on the ways of living on the planet: not only in the socio-environmental changes context but also in ways of life enrichment and subjectivity.
Paula Alzugaray
Sonia Guggisberg's works are not places to stay, but doors to be crossed or perspectives for new paths. Her artworks are metaphors that create and build relationships, they are like a “modeling imagination”: it is capable of breaking everyday thinking beliefs, where phenomena are treated as objects, not as relationships. Thus, metaphors are directed to a totality, transforming two heterogeneous and separate fields into a single one, creating something new, total and intentional.
This is exactly what is essential: materializing ways of seeing the world. The greatness and sovereignty of artwork rest on the materialized representation and its forms of representation system. Precisely here, art is a mirror, not because it reflects what is external to it, but because we live a way of seeing experience, something we make our own experience, something that, without this mirror, we would ignore. The sovereignty of art consists, therefore, in its ability to represent and materialize ways of seeing reality.
Bernd Fichtner
Full Professor and Scientific Director of the International Education and Psychology Doctorate (INEDD) at the University of Siegen, Germany.
SOLO FRATURADO é uma mostra que lança um olhar crítico sobre a crise ambiental de nosso planeta. Criando uma densa tessitura e ao mesmo tempo poética, o conjunto de trabalhos em fotografias e vídeos constroem uma grande parede instalativa, apresentando diálogos potentes sobre uma das urgências fundamentais de nosso tempo: a água.
A face ocultada da Represa Jaguari, do Sistema Cantareira, é revelada quase seca. O que estava escondido sob as águas por décadas é exposto, mostrando fragmentos do passado. Óxidos da terra afloram, se espalhando pelo chão em tons avermelhados, criam uma poética da terra que sangra e pulsa no subsolo.
As rachaduras no solo mostram fios de água apontando para pequenos veios de nascentes, remanescentes da represa no meio deste solo erodido. Podendo ser vistos como diálogos reais carregados de metáforas, os veios de água formam uma dualidade com as fissuras, propondo uma reflexão entre o fértil e o árido, o fluido e o rígido; formas que resistem em uma única cena.
Romper, quebrar e partir. Em SOLO FRATURADO a fratura surge como um ato violento. Assim como o osso, que se parte quando não suporta o impacto, o ecossistema se fragmenta perante ao descaso social em sua preservação. Onde antes havia fluidez, assume-se a descontinuidade, formada por rachaduras que fragmentam o solo exaurido. Os registros vistos nesta exposição, evidenciam memórias de um ato de calamidade que alertam para o futuro.
Nas filmagens, são registrados tratores arrancando tocos e raízes das árvores que habitavam a área antes da represa existir, mostram um grande jogo de forças entre a natureza e a máquina. O barulho do motor a diesel acelerando, a tensão dos cabos de aço e os estalos da madeira rompendo, expõem a crua realidade, mas também propõem uma reflexão sobre o conflito entre a violência do homem e a resistência da natureza.
Os tocos de árvores encontrados no fundo da represa mostram sua história. Após serem cortados, queimados, mutilados e submergidos por 40 anos, ainda resistem quando são retirados. Algumas raízes surgindo lentamente da terra seca, brotam como uma imagem sobrevivente na luta contínua de retomar seu espaço.
Os registros realizados por Sonia Guggisberg durante a crise hídrica de 2014, quando a represa chegou a ter 7% de sua reserva, surgem como um alerta de uma crise não resolvida.
Assim como o solo erodido pode ser encharcado novamente pela água, a amnésia social também é estimulada ao silêncio seguindo inerte em suas ações. A fugacidade da memória, somada ao acúmulo de desastres naturais que vivenciamos diariamente, induz a banalização das catástrofes. Visto como algo trivial, pertencente às regras de um sistema econômico extrativista, cria-se a falsa esperança de que tais impasses sejam resolvidos.
Carlos Gonçalves
A pesquisa de Guggisberg é um exercício de percepção mostrando que a desertificação, esse processo de regressão ecológica que atua sobre o meio ambiente, se alastra também na vida social. Suas intervenções e videoinstalações são ações micropolíticas que buscam a reativação de valores como afeto, pertencimento, vínculo, memória. Porém, documentos ganham autonomia e formas próprias, diferenciadas de suas matrizes. O percurso, aqui, torna-se ainda mais provocativo e interativo, levando-nos de volta ao ciclo de permeabilidade do solo e das relações sociais. Ao trabalhar a crise ambiental como um conceito ampliado, Sonia Guggisberg desenvolve um pensamento transversal que relaciona meio ambiente, arte e vida. Perfeitamente legíveis, dentro do conceito das três ecologias de Félix Guattari – a ecologia ambiental, a ecologia social e a ecologia mental -, suas ações micropolíticas lançam focos de luz sobre as maneiras de viver no planeta: tanto no contexto das mudanças socioambientais como no enriquecimento dos modos de vida e da subjetividade.
Paula Alzugaray
As obras de Sonia Guggisberg não são lugares onde ficar, mas portas para serem atravessadas ou perspectivas para novos caminhos. As obras são metáforas que criam e constroem relações, são como uma “imaginação modelante”: é capaz de romper crenças do pensamento quotidiano, onde os fenômenos são tratados como objetos e não como relações. Desta forma, as metáforas são dirigidas a uma totalidade, transformando dois campos, heterogêneos e separados, num único, criando algo novo, total e intencional.
Exatamente isso é o essencial: materializar modos de ver o mundo. A grandeza e soberania da obra de arte repousam na representação materializada e no sistema de suas formas de representação. Precisamente aqui a arte é um espelho, não por refletir o que lhe é externo, mas por vivermos uma experiência de um modo de ver, que tornamos experiência nossa, algo que, sem este espelho, ignoraríamos. A soberania da arte consiste, portanto, na sua capacidade de representar e materializar modos de ver a realidade.
Bernd Fichtner
Professor Titular e Diretor científico do “doutorado internacional em educação” (INEDD) na Universidade de Siegen, Alemanha.